Uso do tempo de aula pelos professores e o desempenho acadêmico dos estudantes

08 setembro 2023
Por Ismael Sanz Labrador: professor titular do Departamento de Economia Aplicada I da Universidade Rey Juan Carlos (Espanha)

Os professores Simon Burgess (Universidade de Bristol), Shenila Rawal (Universidade de Oxford) e Eric S. Taylor (Universidade de Harvard) publicaram em fevereiro de 2023 um post interessante sobre a relação entre o uso do tempo de aula pelos professores e o desempenho acadêmico dos alunos. Este post resume um documento de trabalho dos mesmos autores para a Universidade de Harvard.

Os professores influenciam de forma decisiva a aprendizagem de seus estudantes. Sua incidência é muito alta e pode ter consequências anos ou décadas depois na vida adulta de seus estudantes. Fortalecer as habilidades dos professores atuais, aumentar os salários dos docentes e reduzir o número de alunos por turma são algumas das medidas mencionadas neste estudo sobre a melhoria da educação. O artigo de Burgess, Rawal e Taylor analisa, a partir de dados de um estudo em larga escala de escolas de ensino médio na Inglaterra, o uso de práticas docentes mais eficazes como outro fator que pode melhorar a aprendizagem dos estudantes.

Para esse estudo, os autores se basearam em duas fontes de informação. A primeira é a distribuição do tempo de aula pelos docentes, observada detalhadamente por outros professores durante dois anos. A segunda são as notas dos estudantes nos exames GCSE (General Certificate of Secondary Education, um exame externo em uma ampla variedade de matérias no final do ensino médio obrigatório da Inglaterra, que determina a qualificação dos alunos para estudos posteriores). No total, os autores usam dados de mais de 2.500 observações em sala de aula e quase 10.000 notas do GCSE em 32 escolas em áreas desfavorecidas da Inglaterra. Dessa forma, Burgess, Rawal e Taylor identificam as práticas docentes que mais contribuem para melhorar o desempenho dos alunos nos exames.

O estudo mostra que os professores fazem um uso muito diferente do tempo de aula

Os professores tomam decisões muito diferentes sobre como utilizar o tempo de aula, mesmo dentro da mesma disciplina ou com estudantes de características parecidas. É uma avaliação importante, pois essa variação nas práticas docentes possibilitará verificar quais delas estão associadas a uma melhor aprendizagem dos estudantes. Se todos os professores, ou a maioria deles, distribuíssem o tempo de aula da mesma forma, não poderíamos estabelecer a associação entre esses usos e o desempenho acadêmico. Por exemplo, um quarto das aulas dedicou pouco ou nenhum tempo à atividade “Discussão aberta entre estudantes e professor”, enquanto no outro extremo, um terço das aulas dedicou a maior parte do tempo a esta atividade. Em outras atividades há mais consenso, como mostra o fato de que em 86% das aulas a atividade “Usar um livro didático” quase não é utilizada.

Imagem 1: O aproveitamento do tempo dos professores nas aulas de matemática.
  1. Gauging student understanding / Avaliação da compreensão do estudante
  2. Use of white board by teacher / Uso do quadro pelo professor
  3. Open discussion among students and teacher / Discussão aberta entre estudantes e professor
  4. Students are doing written work alone / Os estudantes fazem trabalhos escritos sozinhos
  5. Spending special time to assist weak students / Dedicar tempo específico para ajudar os estudantes com dificuldades
  6. Students are working in groups / Os estudantes trabalham em grupos
  7. Lecturing or dictation / Aula magna
  8. Assigning homework or class work to students / Atribuição de tarefas ou trabalhos em sala de aula aos estudantes
  9. One to one teaching / Ensino individual, um a um
  10. Students copying from the whiteboard / Os alunos copiam do quadro
  11. Teacher using a textbook during teaching activities / O professor usa um livro didático durante as atividades de ensino
  12. Engaged in non-teaching work / Trabalhos não relacionados ao ensino

Observação: A barra vermelha (à esquerda) representa a proporção de aulas em que houve “nenhuma” ou “pouquíssima” atividade. A barra azul (à direita) é a proporção de aulas em que a atividade ocorria “na maior parte do tempo” ou “o tempo todo”. A barra branca (no meio) quando ocorre “às vezes”. As proporções se baseiam em 2.687 observações, realizadas individualmente por outro professor em cada sala.

Fonte: Simon Burgess, Shenila Rawal y Eric Taylor (2023). Relación entre el uso de tiempo de clase por parte de los docentes y el rendimiento académico de los estudiantes (https://cepr.org/voxeu/columns/teachers-use-class-time-and-student-achievement).

É interessante observar as atividades que geram melhores desempenhos acadêmicos dos estudantes. Por exemplo, as atividades de Matemática são diferentes das atividades de Línguas. Os autores constatam que os estudantes têm melhor desempenho em Matemática quando o docente dedica mais tempo à prática e à avaliação individual em sala de aula. A prática e a avaliação individual em sala de aula incluem: trabalho escrito individual, avaliação escrita ou oral da compreensão do estudante e atribuições de tarefas ou trabalhos em sala de aula. O aumento do tempo dedicado à avaliação e à prática melhora o desempenho dos estudantes. Em contrapartida, os alunos obtêm melhores desempenhos educacionais em Línguas quando dedicam mais tempo à discussão e ao trabalho com os colegas e o professor, além de trabalhos em grupo. Os resultados das outras atividades, como instrução direta ou personalizada, não apresentam efeitos significativos, nem positivos nem negativos. Embora a forma como o tempo de aula é distribuído tenha um efeito menor sobre a aprendizagem dos estudantes em comparação com outras variáveis, é responsável por cerca de um terço do impacto total que um professor tem sobre a aprendizagem dos alunos. Artigos recentes conseguiram vincular as notas dos exames GCSE aos ganhos futuros no emprego, já que influenciam tanto a probabilidade de acesso ao ensino superior quanto as oportunidades no mercado de trabalho. Assim, Burgess, Rawal e Taylor (2023) indicam que, por exemplo, uma mudança nas práticas docentes em sala de aula, aumentando o tempo gasto na interação entre colegas em um desvio padrão, gera uma renda adicional de £5.000 para cada estudante por ano. O impacto da eficiência do professor é ainda maior para os estudantes atrasados.

Fonte: Simon Burgess, Shenila Rawal y Eric Taylor (2022). Documento de trabalho disponível em https://scholar.harvard.edu/erictaylor/publications/teachers%E2%80%99-use-class-time-and-student-achievement.

A conclusão é muito útil para que os docentes identifiquem e aprimorem suas práticas de ensino, que contribuem para aumentar a aprendizagem dos estudantes.

Fonte: Artigo de Burgess, Rawal e Taylor no site da Universidade de Harvard (https://scholar.harvard.edu/sites/scholar.harvard.edu/files/erictaylor/files/teachers-class-time-brt_nov-22.pdf).